Iniciação à filosofia com Éric Weil

Preâmbulo

* No mês passado, fui convidado a conduzir uma sessão do clube do livro da Associação dos Magistrados Brasileiros. Tratei de Golovin, novela de Jakob Wassermann. A gravação está disponível no YouTube.

* Fiz um breve relato (em inglês) sobre a minha experiência na Digital Humanities at Oxford Summer School 2025.

* Abaixo, apresento em linhas gerais as discussões que conduzirei em meu novo curso (incluo um vídeo que, perceba, está aberto para todos). Ao fim, você encontrará informações mais específicas, como as datas das aulas, o valor e como inscrever-se.


Novo curso: Iniciação à filosofia com Éric Weil

a. Diante do antifilósofo

Lógica da Filosofia (1950), de Éric Weil, é possivelmente o levantamento mais sistemático jamais feito sobre os diversos modos de filosofar e os temas que lhes são afins. O autor não evita uma questão à qual os filósofos geralmente não dão atenção: nem todos querem ser filósofos; nem todos toleram o discurso filosófico. Terá este último, afinal, alguma razão de ser que justifique sua aspiração à universalidade?

Weil acredita que sim. Sua longa resposta ao questionamento radical dos antifilósofos o fez revisitar os temas mais recorrentes da história da filosofia e os métodos mais frequentemente empregados pelos filósofos, a fim de afirmar, de diferentes maneiras, que o homem racional, que o é não por natureza, mas por aspiração, tem a obrigação moral de triunfar sobre a violência, a começar pela sua própria violência, aquela sua tendência interior, comum a todos os seres humanos, de justificar injustificadamente aquilo que ele deveria saber ser injustificável.

O movimento dialético do pensamento de Weil é implacável. O que ele erige numa página é demolido na página seguinte; um capítulo, não raro, parece a refutação de muito do que se afirmou num capítulo anterior; mas não é bem assim. A impressão de que uma destruição se segue à outra nasce do emprego do arsenal mais básico do filósofo, esse dialético para o qual todas as carências da vida, toda a “negatividade” da existência, têm de ser respondidas com uma decisiva negação, ou, se quiserem, com uma afirmação geral da racionalidade da vida.

Assim, os termos filosóficos usuais, o “ser”, o “infinito”, a “subjetividade”, são por um lado reduzidos a pó, apenas para que, por outro lado, sejam reconstruídos a partir do solo de um filosofar vivo, a todo momento pioneiro, que se recusa à simples diversão com ideias. Weil tem sempre em mente que não só o antifilósofo pode fazer o movimento da filosofia cessar, mas também o filósofo superior, o sábio, pode igualmente silenciá-la ao finalmente encontrar o contentamento.

A substância da sabedoria, contudo, ainda resiste às investidas de Weil e guarda — na verdade sempre guardará, na perspectiva dele — o seu mistério. Ao fim de Lógica da Filosofia, o leitor talvez se torne capaz de admirar, quem sabe até cultivar, esse mistério.

b. A luta contra a violência

A filosofia, ou melhor, a vida filosófica irá transcorrer entre dois silêncios: entre o silêncio de quem ainda não se obrigou aos rigores da formalidade lógica, buscando ver na contradição a pedra de escândalo do pensamento, para assim evitar a falsidade; e o silêncio de quem se obrigou àquela formalidade, mas buscou dela escapar recolhendo-se a uma condição extática, a um puro fruir do real sem buscar maior coerência interna entre o seu pensamento e aquilo que é pensado.

Do primeiro silêncio o filósofo terá de escapar necessariamente; do segundo, nem sempre, pois o segundo silêncio é o do sábio, ou do místico, e esse estado pode ser encarado sob o ponto de vista de uma categoria filosófica específica (assista ao vídeo mais abaixo para compreender a distinção que Éric Weil estabelece entre atitude e categoria).

Terá de escapar daquele primeiro silêncio porque precisará recusar a vida como mera busca incessante de algo que nunca se encontrará, uma vez que jamais estamos satisfeitos, com um desejo a suceder ao anterior. Desse modo se esboça uma compreensão discursiva daquela busca, e então a busca se introjeta, já não vai em direção ao que está fora, antes indaga os motivos íntimos que induzem àquele movimento. Isto é, o filósofo não quer experimentar a realidade à revelia de sua vontade; ele quer dirigir sua ação, ele quer ser razoável, quer estabelecer proporcionalidade entre seu modo de viver e a formalidade da linguagem; quer, pois, evitar a falsidade existencial.

Isso o obriga a precaver-se contra a violência, não só aquela que outros podem exercer sobre ele, levando-o a pensar e agir em desacordo com o que consideraria ser mais razoável, mas principalmente a precaver-se contra a violência que ele próprio sabe ser capaz de praticar contra si, caso se distraia, caso perca o fio da meada que vai de sua experiência até o seu raciocínio. Escreve Weil (trad. Lara Chistina de Malimpensa):

[o filósofo] tem medo do que nele não é razão, e convive com esse medo, e tudo o que faz, tudo o que diz e pensa se destina a eliminar ou acalmar esse medo. A tal ponto é assim que se poderia dizer a seu respeito que, acima de tudo, ele teme o medo. Ele não teme o desejo, não teme nem mesmo a necessidade, não teme a morte: ele teme temer.

É por isso que, para que se forme a comunidade dos indivíduos “razoáveis” (aqueles que se acostumaram a recusar a violência interior) e se estabeleça o “diálogo” (o campo de consenso mínimo dentro do qual tudo o mais poderá ser questionado), é imprescindível que antes todos passem por um treinamento: “Não é tanto o caso de ser preciso aprender a falar a verdade”, escreve Weil; “é preciso desaprender a mover-se no erro”.

c. A necessidade da filosofia, ou: o que é a “lógica da filosofia”

Volto, no vídeo abaixo, a tratar do “cansaço da filosofia”. Naturalmente, faço-o desta vez da perspectiva de Éric Weil e busco esclarecer por que a filosofia tem de ser necessária, tem de impor-se como inescapável, ou se tornará apenas mais um meio de falsificação da existência. Também explico o que é a chamada “lógica da filosofia”.


Inscreva-se

A que público este curso se dirige

Esta Iniciação à Filosofia se dirige especialmente àqueles sem maior conhecimento ou mesmo contato prévio com textos filosóficos, mas também atende à curiosidade e necessidade daqueles que, mais experientes, esperam encontrar um tratamento mais direto e complexo de certos temas filosóficos. Especial atenção será dada ao problema de como ler filosofia.

Como funcionarão as aulas

Serão 4 aulas ao vivo, via Google Meet. Datas: 13/11, 20/11, 27/11, 04/12, às 20h.

As gravações ficarão disponíveis no Google Drive (em até 24h após a transmissão). No dia de cada aula, os alunos receberão via e-mail, com horas de antecedência, o link de acesso à transmissão.

Durante este primeiro mês, iremos nos deter na “Introdução” de Lógica da Filosofia. O plano é cobrir a obra inteira em 6 meses. Atenção: a inscrição abaixo é referente apenas ao primeiro mês (quatro primeiras aulas).

Como se inscrever

Você pode se inscrever pagando de três formas:

– R$ 150 via pix. Minha chave é esta: camoensiii57@protonmail.com

Por favor, envie o comprovante para o e-mail que serve de chave pix.

– R$ 150 em bitcoin. Mande-me mensagem no e-mail informado e lhe indicarei a carteira para a qual enviar o valor.

– R$ 165 via cartão de crédito. Clique aqui.

Nesse caso, não é preciso me enviar comprovante algum.

Independentemente da forma de pagamento, enviarei e-mail confirmando a sua inscrição em até 24h após o pagamento.


Descubra mais sobre A Fantasia Exata

Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.


Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Descubra mais sobre A Fantasia Exata

Assine agora mesmo para continuar lendo e ter acesso ao arquivo completo.

Continue reading